Senado avança em duas frentes para reduzir ainda mais impactos do tarifaço e estabelecer estratégia de longo prazo para o comércio exterior
Nesta semana, duas agendas paralelas — e interligadas — colocam o Senado no centro das discussões sobre a política comercial brasileira. Ambas as iniciativas têm um ponto comum: são conduzidas sob a presidência do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), à frente da Comissão de Relações Exteriores e da Comissão Temporária Externa Brasil–EUA (CTEUA), criada diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos. De um lado, a CTEUA realiza, nesta quarta-feira (3), às 11h, a apresentação e apreciação do relatório da senadora Tereza Cristina (PP-MS). De outro, na quinta-feira (4), às 10h, a CRE analisa o Relatório Final do Grupo de Trabalho sobre a Estratégia de Comércio Exterior do Brasil, consolidando seis meses de diagnóstico sobre os desafios e oportunidades para ampliar a inserção internacional do país.
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CTEUA: ponte política em meio ao tarifaço
Criada em julho, a CTEUA nasceu após o anúncio das tarifas de até 50% impostas pelo governo norte-americano a produtos brasileiros — uma medida que atingiu cadeias como café, carne, frutas, madeira, pescados e parte dos industrializados.
A primeira atividade do colegiado foi uma missão oficial a Washington entre 28 e 30 de julho, onde parlamentares brasileiros se reuniram com senadores democratas e republicanos, além de representantes do setor privado. Segundo o senador Nelsinho Trad, a viagem abriu uma “ponte de diálogo” em um momento de forte tensão comercial.
O relatório da senadora Tereza Cristina, que será apreciado nesta quarta, compila as ações realizadas pela comissão ao longo de cinco meses e reconstitui o processo que levou ao recuo parcial das tarifas — incluindo a resolução aprovada no Senado dos EUA (52 a 48), que contestou a base jurídica utilizada para a imposição da alíquota de 50%.
O documento também detalha as dificuldades enfrentadas por setores ainda sob tarifa e destaca que negociações seguem em andamento, sobretudo para produtos que não foram contemplados na retirada recente, como o setor madeireiro do Sul, pescados e parte dos bens industrializados.
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Estratégia de comércio exterior: diagnóstico de 36 reuniões
Paralelamente à crise tarifária, a CRE coordenou, desde maio, um Grupo de Trabalho sobre a Estratégia de Comércio Exterior do Brasil, que será apresentado nesta quinta-feira (4), às 10h, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados.
O relatório final propõe uma leitura integrada entre política comercial, logística e negociações internacionais. “O Brasil não pode ficar tomando susto a cada nova tarifa ou crise externa”, afirma o senador, defendendo previsibilidade e ação coordenada entre governo, Congresso e setor produtivo.
O GT estruturou seu diagnóstico em três eixos:
1. Políticas de fomento às exportações e competitividade industrial
2. Negociações comerciais bilaterais e multilaterais
3. Infraestrutura logística e integração sul-americana
O levantamento revela gargalos persistentes, como portos saturados, baixa automação e custo logístico elevado, avaliados como fatores que reduzem a capacidade de o país aproveitar acordos internacionais.
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Efeitos do tarifaço dentro do relatório
Entre os impactos do tarifaço, o documento registra:
• queda de 4,5% nas exportações brasileiras para os EUA entre janeiro e outubro;
• retrações superiores a 70% em café e carne bovina;
• deterioração acentuada dos fluxos em setembro e outubro;
• risco inicial de perda de 138 mil empregos.
“O tarifaço mostrou que precisamos de agilidade e instrumentos mais modernos. O mundo está reagindo rápido e o Brasil não pode ficar parado”, diz o senador.
Ao mesmo tempo, outros mercados ampliaram a absorção de produtos brasileiros, como Ásia (+21,2%), Europa (+7,6%) e América do Sul (+12,6%), com forte crescimento para China (+33,4%) e Índia (+55,5%).
A expectativa é que o relatório da CTEUA e o relatório do GT de Comércio Exterior se tornem instrumentos de referência para projetos legislativos, revisões regulatórias e recomendações ao Executivo.
“É um ponto de partida”, afirma o senador Nelsinho Trad. A avaliação dele é de que “o Brasil precisa de coordenação contínua para evitar vulnerabilidades — como as reveladas pelo tarifaço — e aproveitar as oportunidades abertas por novos acordos, cadeias globais e fluxos de investimento”.
Publicado em
02/12/2025